Contraste de beleza e miséria

Contraste de beleza e miséria
Foto tirada pelo nobre amigo Alexandre Fleming e cedida gentilmente.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Sátira da morte.




Vendo a matéria no portal do G1, onde enfermeiros satirizam (ou falam a verdade sobre o que acham) da profissão, me fez recordar uma das piores horas da minha vida. Fiz uma cirurgia em 2008; cirurgia essa que serviu para colocar seis pinos e três hastes na coluna (nas vertebras L4, L5 e S1), pois minha coluna havia cedido, provocando dores intensas. Acho que foi devido a resquícios de outras duas operações que eu já havia feito. O nome técnico (acho que é esse o termo) dessa cirurgia é ARTRODESE LOMBAR DE VIA POSTERIOR e foi realizada magistralmente pelos médicos Dr. Ronald Mendonça (neurocirurgião) e Dr. Francisco Américo (Traumato-ortopedista). 

Nada tenho a reclamar do ato cirúrgico em si e muito menos do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Mas essa reportagem me fez lembrar do enfermeiro-chefe da UTI neste dia (leia-se noite). O mesmo tratava todos os doentes com desdém, era irônico com os outros enfermeiros e suas palavras eram sempre em tom de menosprezo e chacota. Lembro de estar nu, em cima da cama, sem poder me virar. A enfermeira o chamou para ajudar a dar banho em mim. O mesmo disse que não tinha pressa que dali eu não ia sair. Ao perceber a má vontade do tal, a enfermeira ficou ao meu lado sem saber o que fazer. 

Logo após, ele solicitou que ela começasse o procedimento e que viria ajudar. Assim ela fez. Na sala gélida e com “bips” que mediam os batimentos cardíacos de outros pacientes e o com cheiro inconfundível de hospital que adentrava em minhas narinas, ela começou a me banhar enquanto eu ouvia o mesmo ironizar de todos dentro daquele ambiente (Fez-me pensar naqueles seriados americanos sobre emergências médicas em que algo sempre dá errado). 

Em certo momento ela percebeu que não ia conseguir me virar e o chamou. No que ele prontamente se negou a ajudar. Passei de 5 a 10 minutos tremendo de frio, molhado e a cama encharcada. A enfermeira, notando já meu “pequeno” desespero, foi novamente pedir a ajuda dele explicando que eu estava me tremendo de frio, e para minha surpresa a resposta foi em alto e bom som: “- Problema seu e dele, estou ocupado e não vou poder ir agora... Ele que espere!”. No que a enfermeira respondeu em tom baixo: ”Ele está acordado... E está ouvindo!”.

Neste momento houve um silêncio ensurdecedor na UTI. Não sei por qual motivo o mesmo achava que eu ainda estava sedado, ou dormindo, não sei. O que sei é que desejei sair dali o mais rápido possível e que foram as piores 12 horas da minha vida.

Não dei queixa na Santa Casa, pois não tive coragem. Achei que de nada adiantaria. Hoje, agiria de forma diferente. Esse é um problema grave de várias pessoas que trabalham somente e tão somente pelo dinheiro... Pelo contracheque. Infelizmente em nosso país o que mais falta é profissionalismo, o que mais sobra são canalhas disfarçados de profissionais.

E para o nobre enfermeiro: Saúde e paz...